domingo, 25 de setembro de 2011

100 dias

Por quase 4 meses estudantes da rede estadual de ensino em Minas Gerais ficaram sem aulas. Professores pararam de trabalhar e utilizaram o direito constitucional para entrarem em greve. O ano letivo tem apenas 4 trimestres. 1 deles foi sem aulas. O motivo maior: aumento salarial. De acordo com a classe, o piso está defasado; dar aula para uma classe de crianças e adolescentes é muito difícil, perigoso às vezes.
Minha dúvida é se tem alguém com uma arma apontada para a cabeça do professor obrigando-o a dar aulas, a ser um educador profissional. É que nunca vi/ouvi alguém dizendo: "Se você não for professor, mato sua família!".
Todos temos opções. Podemos mudar de emprego sempre que o mesmo não for mais conveniente. Tem funcionário público que não pensa nisso. Quer viver a estabilidade que o cargo oferece, com uma mediocridade profissional que o mercado não aceita. Logo, aumento só com greve, pois ela pune a sociedade e força o governo a dar o aumento que eles querem.
Isso, é birra de criança inserida no mundo profissional. E é ridículo. Por que eu preciso pular de galho em galho, virar o sete pra ganhar o que quero, pra ter o treinamento que almejo e o mercado busca se outros cruzam os braços, dão chilique, pra conseguir o mesmo?
O que o país precisa é de uma administração pública que exija de seus servidores o cumprimento de metas, níveis de qualidade e bonificação. Se você é um bom professor, se sua escola tem um nível educacional bom, que você receba um prêmio no fim do ano. Por que os bons merecem ganhar mais. Mas os medianos... esses valem o que ganham.
Aos que estão fechados em seus mundinhos, pergunto: Qual salário não está desafado? Por que um professor que passou em um concurso e sabia o valor do salário quando se inscreveu merece entrar em greve se o piso salarial no país como um todo começa com 1 salário mínimo??? Quem é você, professor, pra se achar melhor que qualquer outro profissional do setor privado e público? Se você é tão bom assim e quer ganhar mais, por que não foi para uma área/ empresa que te pague mais? O que te prende onde você está? Por que o reajuste da sua categoria tem que ser maior do que 10% se nenhuma outra categoria recebeu tal reajuste?
Por que a sociedade deve te apoiar a ganhar mais se você aprova aluno sem que o mesmo tenha compreendido o que estava no currículo escolar do ano? Se você não faz o mínimo exigido de você, que é educar, por que você foi pra rua pedir pra ganhar mais? Por que a sociedade não se juntou a você em sua luta? Você já pensou se essa luta é honesta? Se há outra área da sociedade que precise mais de ajuda?
Segurança pública, saúde e educação são serviços básicos que precisam funcionar com perfeição para que a sociedade cresça. Por isso, da mesma forma que os médicos não podem parar 100%, os professores também não poderiam. Se a educação não vai bem, também seja por que nem os que querem dar credibilidade à ela acreditem no que pregam. Não a valorizam como deveria.
Nos próximos meses, crianças das mais diversas idades estudarão também aos sábados. As férias de fim de ano devem ser substituídas por um recesso na última semana do ano. Será que após 3 meses parado, o professor poderá entrar na sala de aula e voltar a dar a aula de onde havia parado? Haverá recapitulação de conteúdo? O currículo será cumprido? Os adolescentes largarão os bicos que encontraram nesse período para voltar à sala de aula? Quantos pré-adolescentes e adolescentes entraram para o tráfico nesse período? Quantos leram um livro? Quantos lembram o que estudavam antes das aulas pararem?
Com os efeitos colaterais da greve os educadores parecem não se preocupar.
Será que esse não é o momento de novas passeatas? Agora com pais, avós, tios, amigos de alunos exigindo que o estado faça um teste e retire do quadro de servidores aqueles que estão abaixo da média. Que estão defasados? Talvez só assim consigamos melhorar o nível da sociedade como um todo. Precisamos aprender que quem cobra também precisa ser cobrado. Da mesma forma que exijo clareza do governo, também devo ser clara, honesta. A via precisa ser de mão dupla.

PS: não sou contra o direito de greve. Mas acredito no bom senso e no tirar proveito.

domingo, 4 de setembro de 2011

Eu brincava de bonecas e barbie enquanto ele desmontava TVs, geladeiras, e qualquer eletrônico que desse mole ao seu lado. Não lembro quando o conheci ou a primeira vez que ouvi seu nome. Só sei que nossa diferença de idade não passava de 1 ano e ele era o primo super heroi de uma das minhas melhores amigas.
Alguns anos mais tarde, Francisco passou a ser Perigoso. Deixou de destruir eletrônicos para arrebatar os corações das adolescentes de Lagoa da Prata. E o fez com a modéstia de um verdadeiro galã e a galinhagem de um grande Don Juan. Não sei de onde saiu o apelido, mas o fazia justo. Aquele garoto, recém chegado à cidade era mesmo um perigo para as garotas. Muito inteligente, esperto e diferente dos garotos que conhecíamos. Sem contar que poucos, muito poucos tinham uma beleza física próxima à dele.
Além disso tudo, Francisco, desde cedo, comandava os rumos da vids. Sabe aquele ditado de que é melhor viver um dia como leāo do que sem como cordeiro? Perigoso desde criança abraçou a vida como um felino.
Com o passar dos anos fui perdendo contato. Não que tenha tido muito. Era apenas um aceno com a cabeça, ou o trivial "ei, tudo bem?" ou "como está?". Mesmo assim, as notícias sempre chegavam. E Francisco era o tipo de pessoa que nunca foi necessário perguntar. Ele era assunto, pois sempre foi do tipo que marcou as pessoas com quem teve contato. Ordinário nunca. extraordinário sempre.
E como todo ser humano inteligente, Francisco sofreu para se ajustar ao seu tempo, às exigências impostas pela sociedade vigente. E não decepcionou. Mostrou-se exímio no que se propôs a fazer.
Ao se tornar pai, foi presente, da sua forma. Era do tipo que parava para brincar e o fazia por querer, não por obrigação.
Perigoso, talvez por não suportar viver sem intensidade, partiu bem antes do que esperávamos e deixando várias peguntas no ar. Surpreendeu mais uma vez. Para trás ficaram memórias, histórias de um garoto que viveu a vida à 300km por hora, sem nunca pisar no freio. Francisco explorou possibilidades, estilos de vida. Soube valorizar o que realmente é importante. Não tenho dúvidas que viveu, em 30 anos, o que a maioria não consegue fazer em dois séculos. São pessoas como Francisco que viram mito.
No momento, visualizar o futuro não é fácil, mas esperarei o dia em que ouvirei, em um grupo de adolescentes, eles comentarem de um garoto e suas peripécias.