segunda-feira, 16 de abril de 2012

Revolta, raiva, dor e muito mais

Imprudência médica me revolta. Hoje pela manhã faleceu um primo meu de segundo grau por falta de assistência médica. Ele não era o tipo estou com dores mas sou durão. Tinha plano de saúde, era adepto da medicina preventiva, consultava com a frequência que o gastro determinava, só não contava com a falta de respeito dos médicos que negaram o devido tratamento e o levou ao óbito.
Recém chegado de uma consulta com um especialista na cidade de Bom Despacho, com as guias de internação e recomendações em mãos, ele foi para o hospital São Carlos, em Lagoa da Prata, cidade que mora. Só que o pediatra que era o plantonista no momento recusou interna-lo.
Ao invés disso, deu um medicamento para dor e o mandou pra casa, respaudado por mais dois médicos da cidade.
Horas depois ele retornou ao hospital para tentar uma  nova internação já que a dor só aumentava. Os médicos ainda se recusavam a interná-lo para o tratamento correto. Após 4 horas dentro do hospital e sem receber o tratamento indicado pelo especialista, a esposa e um amigo o retiraram do hospital, colocaram na traseira de uma caminhonete e seguiram para Divinópolis, cerca de 100 quilômetros de Lagoa. Quando chegaram ao P.S a condição estava além das possibilidades de tratamento.
Com menos de 45 anos de idade, deixou de rabiscar no livro da vida. Não verá os filhos adultos, não comemorará bodas de ouro, prata ou as brigas de um divórcio. Não verá o Galo campeão ou o Cruzeiro na segunda divisão. E não convencerá o pai de que um portão eletrônico é mais seguro para a casa do que o que está lá há mais de 20 anos.
Pergunto o que acontecerá com os médicos, com o hospital?
Sei que não é comigo, mas se fosse,... juro que não sei o que faria nesse hospital ou com esses médicos. No momento, métodos de tortura chinesa parecem pouco.
E isso não é um caso isolado no interior. Em 2009, lembro que minha irmã e meu primo saíram de BH ruma à LP as pressas para buscar minha mãe, pois ela sentia dores terríveis e os pseudo-médicos da cidade não encontravam nada. Quando chegaram com ela em BH, no Hospital Madre Tereza, os plantonistas do pronto socorro queriam tratar a dor e solicitaram que ela agendasse consulta com um especialista para fazer exames e descobrir o que tinha. (Quem vai com regularidade ao médico sabe que agendar consulta com qualquer tipo de especialista demora, com sorte, 30 dias.) Doença agora chega com tempo de espera para esperar por especialista e exames? Pronto socorro virou "Pronto pra voltar sem dor e com muito remédios pra destruir seu fígado"?
Como sou contra o "tratemos a dor e depois descobrimos o por quê dela existir" dei muito chilique, minha tia usou o rapor que tinha com a equipe, minha irmã, a paciência para manter minha mãe calma diante de tudo aquilo, e conseguimos que um ginecologista - que atendia em seu consultório no mesmo hospital - fosse vê-la. Resultado: ela estava com hidrosalpinge e precisou ser operada no dia seguinte. Trompa e ovário esquerdo estavam podres. A espera poderia ter causado uma infecção generalizada, levando a morte. Até hoje agradeço o compromisso do dr. Fagundes com o juramento médico. E também por descascar a equipe que estava ali no momento.
Só que nem todo mundo tem ao lado alguém briguento, ou que trate todos como amigo ou um verdadeiro médico. Profissional de saúde precisa estar na profissão por amor e não salário. Quem pensa só em dinheiro deveria virar administrador, economista, funcionário das bolsas de valores ao redor do mundo, agiota, designer da Casa da moeda. Qualquer coisa que não envolva salvar a vida do outro.
Faltam leitos, medicamentos, profissionais, suplementos médicos obrigatórios como luvas e álcool. A área da saúde no Brasil está em crise sim. Só que isso não dá o direito de médicos de hospitais públicos e particulares decidirem quem tratar ou invalidar o tratamento indicado pelo especialista que acompanha o paciente. Os particulares então... melhor não entrar nesse mérito.
Pelo meu primo - que convívio tive pouco, mas memoráveis - sei que nada posso fazer. Pela família dele, o que posso oferecer são alguns causos engraçados, um par de ouvidos, um ombro amigo e todo apoio que precisarem para que possamos caçar a licença desses médicos, processar o hospital e evitar que outros morram por imprudência.
Cada um lida com os estágios do luto de formas diferentes, mas uma coisa que nunca podemos aceitar é que casos assim continuem existindo. É preciso punir e pra isso temos a lenta, cega e procrastinada justiça ao nosso lado. Se ela não resolver, com tempo zero atrás das grades, o 38 garante 100% de eficácia (o sangue siciliano berra).