quarta-feira, 14 de abril de 2010

2014?

Você já foi à um evento e se sentiu totalmente deslocado? Com aquela sensação de que todos te olham como se fosse de outro planeta? Foi assim que me senti sempre que iniciava uma conversa com alguém sobre os preparativos para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, em Brasília.

Durante os dias em que eu e o fotógrafo Daniel de Cerqueira ficamos na cidade, só se falava em Arruda e mensalão. A faixa verde e amarela, recém-colocada em alguns taxis, era motivo de revolta em parte da categoria. “Verde é a cor do Arruda!” disse um deles, indignado por ter sido obrigado a colocá-la. E eu achando legal os táxis patrióticos.

Em outra situação, a assessoria de imprensa de uma secretaria do Distrito Federal, pareceu ficar ofendida quando pedi que ela confirmasse o nome do secretário. A ligação estava ruim, então fui direta: “o secretário ainda é fulano?” Recebi um ríspido “ciclano assumiu o cargo há muito tempo!” - menos de 60 dias – mas quase um recorde nessa crise da política candanga. Na noite anterior à viagem o governador era um. Quando pousei em Brasília, já era outro. E no seguinte… melhor nem tentar.

Acompanhar a situação política só era possível se você dormisse e acordasse com o radio ligado em uma estação especializada - e olhe lá. Nem o site oficial do DF ficou no ar. Sem governador, com uma possível intervenção federal, a festa em comemoração dos 50 anos da cidade por um fio e eu querendo falar sobre as obras para um evento que acontecerá daqui 4 anos. É, eu fui o peixe fora d’água. Tudo bem, planejar e construir uma estrutura como a projetada demanda tempo, mas quem consegue pensar no bolo se nem o fubá está certo?
Durante a apuração, algumas obras foram paralisadas e reiniciadas de um dia para o outro. Até pessoas envolvidas no processo estavam perdidas. Salvo Sérgio Graça, gerente da Comissão da Copa na cidade. Independente de qual secretaria, a resposta parecia automática: tecle 1 para “sobre isso quem está por dentro das informações é o Sérgio”; 2 para “entre em contato com o Sérgio e ele indicará a pessoa para falar sobre o assunto”.
Até a entrevista com o secretário de esportes, Hebert Felix, teve um dedinho do Sérgio para eu conseguir a confirmação. E foi um pouco antes da entrevista que Hebert recebeu a notícia de que estava de mudança para desocupar o Mané Garrincha. Data: 30 de março. Se você vir algumas mesas com computadores na Asa Sul, próximo ao estádio, pode ser que sejam eles.
Por fim, consegui conversar com as pessoas-chave para a reportagem existir. Mas dá-lhe telefonemas e remarcações. Sem contar que eu e o Daniel estávamos pela primeira vez em Brasília. Com cada entrevistado era em um ponto, foi preciso contar o tempo perdido nos trajetos. Nem Rafaela, nossa guia por um dia e brasiliense de nascimento, conseguiu nos guiar sem se perder. A população é muito amigável e se propõe a ensinar o caminho com muita educação. Mas há um grande problema: falta sinalização. O gadget de GPS do celular ajudou, mas também não é configurado para o formato de endereço de Brasília.
Fui à Brasília ver os preparativos para competir com outras capitais e ser o QG do evento. Voltei com uma excelente impressão da cidade. Rindo do que eles chamam de congestionamento e hora do rush, com saudade da gastronomia diversificada e dos amigos que fiz e revi. A cidade vai sediar a Copa? Eu não sei, mas tem alguma cidade preparada para isso ou com problemas menores?