domingo, 6 de dezembro de 2009

Julie & Julia

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Fiquei sabendo desse filme algum tempo atrás, na verdade, li que a história da blogueira Julie Powell viraria um filme. Isso me interessou mas nada demais. Há pouco mais de um mês, quando precisei escolher um filme para indicar como opção de lazer, escolhi ele e fui ler o pressbook, aquele calhamaço de informações sobre o filme que a imprensa recebe com entrevistas, sinopse reduzida, completa, fatos curiosos, e mais umas coisinhas... Ele me deixou curiosa. Indiquei e pra mim não há nada pior de indicar algo e ao assistir constatar ser uma porcaria. Acontece e peço desculpas, mas o erro faz parte da minha vida e, por mais que eu tente, ele continua presente. (risos)

Dessa vez foi diferente Julie & Julia é um bom filme. Se você se interessa por culinária pode ir que vai gostar, se tem um blog também vai se identificar. Se nada disso te interessa, mas você gosta de romance (acho que é o gênero que melhor o enquadraria) também vale a pena conferir.

As interpretações estão ótimas. Existem dois tempos na narrativa. E isso difere ainda mais o estilo de vida das personagens. Julia vive em plena década de 1950 na França. É cheia de vida e tempo para aprender. Já Julie vive em uma grande metrópole como a maioria de noses, sem grandes aventuras, esperando um dia terminar para começar outro. E é o desafio de fazer pouco mais de 500 receitas em 1 ano que devolve a ela a alegria de viver que muitas vezes perdemos. Tudo isso narrado em um blog que devolve a ela a empolgação da escrita que havia perdido.

Mas não é só para indicar o filme que estou escrevendo. Considerado bobinho para alguns, ele trabalha assuntos profundos. Direito autoral é um deles. Afinal, Julie está utilizando a obra de uma pessoa, sem autorização, para desenvolver um projeto.
Segundo, diferente da Julia que demora 8 anos para conseguir ter o livro publicado e aí sim lido, Julie consegue os leitores em pouco tempo por meio da internet e aí, o  material já lido pelos internautas se torna um livro. Adoro essa inversão de etapas.

É a sociedade do espetáculo em seu ápice. Publico porque há público para aquilo que no momento vende. Qualidade?, bem... isso varia de acordo com o nicho de mercado. Como argumenta minha prima que está fazendo uma matéria de sociologia: "vivemos em um sociedade complexa" e isso explica tudo.

O terceiro ítem, e pra mim o mais interessante, é uma fala do filme, que como não anotei, irei parafrasear: "os seus leitores irão sobreviver". Essa frase acontece no meio de uma discussão e reflete muito bem o que muitos de nós vivemos mantendo a tecnologia num patamar de relevância altíssimo.

Eu converso com meus amigos mais por e-mail, twitter, orkut e facebook, não necessariamente nessa ordem, do que os vejo pessoalmente. No meu caso, em específico, não tenho amigos que não conheço pessoalmente. Tenho alguns conhecidos online, mas sou muito mineira para chegar a tanto.

Acontece que conheço gente que tem. Gente que deixa de sair para ficar na frente do computador. Gente que se preocupa tanto com seus leitores virtuais que esquece que ao seu lado existem milhares de experiências para serem vividas. E o grupo que mais vive isso é essa galerinha que tá chegando agora. Que não precisou procurar em volumes de enciclopédia informações para fazer um trabalho de escola. Que já nasceu com a internet DSL, celular e redes de relacionamento.

Essas pessoas que já não tem a vivência de cair de uma árvore, ou jogar queimada na rua de terra em frente de casa. Que não sabe o que é se aventurar no mato. Morre de nojo de tudo e conhece de cabo a rabo a programação dos 200 canais de TV a cabo/satélite, os lançamentos do cinema e os sites com as últimas novidades. Porque o que importa agora não é viver experiências, é ter o que de mais novo chegou ao mercado.

Me pergunto sobre a velhice dessas pessoas. Eu poderei dizer que passei as férias da infância e adolêscencia no lombo de um cavalo. Subi em búfalos, corri deles também, tirei leite de vaca, subi em árvore para pegar aquela jabuticaba que chamávamos de "zoi de boi" por ser gigante. Brinquei de queimada, bolinha de gude, andei de bicicleta em meio a um temporal, aprendi a costurar, cozinhei no fogão que eu tinha no quintal pras minhas experiências que salvariam o mundo (só não me lembro do que)... que voltei descalsa pra casa após uma noitada na balada. Onde também já entrei e saí encharcada por causa da chuva e isso não deixou a noite ruim. Que fiquei sentada no meio-fio esperando o dia nascer só pra depois ir pra casa dormir. Que saí da minha cidade pra ir ver uma exposição logo ali (500km). Sem contar as surtadas por conta do trabalho e as situações estranhas em que entrei por causa do TOC.

E elas? falarão que tiveram o computador x, depois o x-beta, seguido do último modelo do celular tal que também já estará desatualizado e ninguém mais se lembrará nem do nome deles. Terão a memória de um museu especializado. Sobre elas, o que fizeram? Foram escravas da tecnologia. Ainda temos tempo de mudar isso, de sair da frente da tela e ir pra rua. O ter algo pra fazer depende mais de você do que dos outros. É você, sua imaginação que te leva a uma vida cheia de coisas para contar no futuro. Não é o outro. E isso independe da idade, religião ou sexo.