sábado, 22 de novembro de 2008

Percausos da vida

Entre os livros que li este ano alguns me chamaram a atenção. "Se eu vivesse minha vida novamente" e "Uma vida inventada" principalmente, pois ambos falam no fim das contas da mesma coisa: como acontecimentos que parecem errados, complicados, dolorosos, contravensores, intensos fazem de nós os protagonistas de nossas vidas. E as vezes as palavras sábias vem de onde menos esperamos. É comum ouvir que a sabedoria vem com a idade, mas as crianças também tem muito o que ensinar afinal elas não medem ou pensam duas vezes antes de dizer nada e foi uma que me disse: "se for pecar, que peque direito". Claro que as contravenções tem consequências diferentes para nós, mas Deus as pesará da mesma forma. Assim, porque tentar viver uma vida sem grandes acontecimentos, pensando sempre na opnião alheia e esquecendo que este é o seu momento de mudar as coisas, de fazer a diferença. E um pode mudar. Em novembro eu conheci Flordelis, uma carioca que adotou 43 crianças, hoje tem ajuda de artistas para conseguir aparecendo na mídia e mantendo seu trabalho por meio de doações. Mas nem sempre foi assim. As primeiras crianças chegaram em sua casa quando ela morava em um barraco com o marido e três filhos. Um tempo depois, com a Chacina da Candelária - +-15 anos atrás - na verdade logo após a chacina a casa que antes tinham 5 e depois passou a ter 10, de repente passou a viver 39. Só crianças eram 37, 14 com menos de um ano de idade. O governo só descobriu a existência de Flor, das crianças e das condições em que viviam 9 meses depois. Para não perder os filhos ela fugiu quando o ministério público ordenou que ela devolvesse as crianças. Passou 4 meses na rua, correndo de uma casa para outra até que conseguiu ajuda. A história de Flor, a força de vontade dela em seguir em frente mesmo enfrentando toda a sociedade e ficando sozinha, sem o apoio dos amigos ou da família é linda e merece reconhecimento. Agora quem merece realmente ser ouvido sã as crianças que são cuidadas por elas. A maioria foi abondonada pela família. Não apenas pai e mãe, mas avós, tios, primos que optaram por não terem "mais um problema em sua vida". Uma das garotas que conversei, de 13 anos, tem 5 irmãos. Dois estão com tios que ela não sabe onde vivem. Outras duas vivem com ela na casa da Flor. Uma tem 3 e a outra quase 2 anos de idade. A mais nova parece ter nascido enquanto a família vivia nas ruas. Mas a garota não consegue se lembrar de tudo com detalhe. Sabe que a casa foi incendiada por traficantes que cobravam uma dívida do pai. A mãe sumiu levada pela polícia, mas não está presa. Mesmo demostrando estar feliz e integrada na casa ela ainda chora e clama para que a mãe apareça para dizer apenas que está bem. E eu prefiro nem contar as experiências que essa garota viveu enquanto estava nas ruas.
Outra, 9 anos, vive com uma irmã de 12 na casa de Flor, foi parar lá há 1 ano. Um ano depois que a mãe morreu. O pai chegou a conclusão que não teria condições de criar as filhas. A avó encontrou então a casa da Flor e as deixou lá. No início o pai aparecia há cada 15 dias e levava as garotas para passear. Há 6 meses ele deixou de ir. Os soluços quando ela começa a contar a história é de partir o coração. A necessidade de carinho e atenção dessas crianças é enorme. Quando saio de matérias assim vejo como minha vida foi fácil. Quando leio sobre a vida de Maitê Proença percebo como precisamos atravessar as adversidades, aprender com elas e seguir em frente tentando ajudar ao máximo quem está vivendo aquela situação. Afinal, essas experiências são terríveis de serem vividas. Por crianças que deveriam sonhar em serem superhomens ou modelos sonharem com comida, carinho, e em não serem abusadas chega a um nível de perversão humana que fingimos não existir. Deve ser uma das formas egoístas - que Nietzsche tanto gosta de falar em seus livros como "Ecce Hommo" - de sonhar que vivemos em nossos perfeitos universos e que não ter o último modelo daquele produto é o nosso maior problema.
Ver o outra lado da realidade não é fácil. Conviver com ela também não, mas é o melhor que pode nos acontecer. Pelo menos pra mim, toda vez que saio para fazer um trabalho e converso com pessoas que vivem com tão menos do que nós e curtem mais a vida, os pequenos detalhes, porque no final das contas são as coisas do dia-a-dia que fazem a diferença. Uma amiga minha escreveu um texto um dia desses falando de como as pessoas não olham o lado emocional quando param para fazer o balanco anual. Enquanto lia o texto fui pensando em meu ano. Minha conclusão é que este foi um excelente ano para mim como pessoa. Cresci muito. Eu falar assim parece presunção até porque fui despedida, não tenho perspectivas de futuro, mas acho que estou mais calma, mais positivista. Claro. continuo acreditando cada dia menos na sociedade, mas tenho visto que eu posso fazer a diferença, que preciso vencer meus mamutes e estou me sentindo cada dia mais forte para poder enfrentá-los.
Quando vier um problema não trave. Pare e pense em como passar por ele e como ele te ajudará no futuro. Aos 12 anos fiz curso de modelo e manequim porque minha mãe queria e hoje as noções que adquiri 15 anos atrás ajudam em meu trabalho. Um ano depois fiz um curso de tapete arraiolo e de artesanato envolvendo culinária. E no meu primeiro estágio esses conhecimentos me ajudaram a facilitar meu trabalho e a quem o acompanhava entendiam melhor o que tentávamos ensinar. Porque em 5 minutos ninguém aprende a fazer um sabonete. rs...

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